Créditos da matéria: (Texto extraído e adaptado da publicação "Projeto Três Momentos da História das Telecomunicaçõ es no Brasil", de autoria do jornalista Ethevaldo Siqueira.)
Há 52 anos, o dia 5 de maio foi instituído como o Dia Nacional das Comunicações. Nessa data, em 1865, uma grande figura das telecomunicações brasileiras nascia em Mimoso, perto de Cuiabá (MT), doze dias antes da fundação da União Telegráfica Internacional, hoje União Internacional de Telecomunicações: o marechal Rondon. Rondon foi batizado com o nome de Cândido Mariano da Silva. Adolescente ainda, para não ser confundido com um homônimo de má reputação, passou a adotar o sobrenome Rondon. No dia em que completou noventa anos, em 1955, Cândido Mariano da Silva Rondon foi promovido ao posto de marechal, por indicação unânime do Congresso Nacional. Por decisão do Ministério das Comunicações e do Serviço de Comunicações do Exército, passou a ser homenageado como Patrono das Comunicações do Brasil. Descendente de índios terenas, bororós e guanás, Rondon sempre foi o maior defensor dos indígenas brasileiros. "Morrer, se preciso for. Matar, nunca" - era o lema do brasileiro que ganhou maior projeção e reconhecimento internacionais por sua vida, inteiramente dedicada à exploração pacífica, humanitária e civilizadora dos trópicos. Ao longo de sua vida, o marechal Rondon chefiou diversas missões demarcatórias de fronteiras e percorreu mais de 100 mil quilômetros de sertões, por rios, picadas na floresta, caminhos toscos ou estradas primitivas. Descobriu serras, planaltos, montanhas e rios e elaborou as primeiras cartas geográficas de cerca de 500 mil quilômetros quadrados, até então totalmente desconhecidos dos registros nacionais. Essa área equivale ao dobro da área do Estado de São Paulo e é maior que a da França. Organizador e diretor do Serviço de Proteção ao Índio, antigo SPI e hoje FUNAI (Fundação Nacional do Índio), Rondon nunca permitiu que se cometesse nenhum tipo de violência ou injustiça contra os mais legítimos donos das terras descobertas por Cabral. Afinal, Rondon era um deles. "Os índios do Brasil", propunha o marechal Rondon, "arrancados à voraz exploração dos impiedosos seringueiros, amparados pelo SPI em seu próprio hábitat, não ficarão em reduções, nem em aldeamentos preparados. Assistidos e protegidos pelo governo republicano, respeitados em sua liberdade e independência, nas suas instituições sociais e religiosas, civilizar-se-ão espontaneamente, evolutivamente, mediante educação prática que, por imitação, recebem". Eis aí a visão humanista desse pioneiro. Em 1912, Rondon foi promovido ao posto de coronel, depois de ter pacificado os índios das tribos caingangue e nhambiquara. O Congresso Universal das Raças, bem como o 18º Congresso Internacional dos Americanistas, reunidos em Londres, e a Comissão Parlamentar de Inquérito, instituída para apurar as atrocidades praticadas contra os índios peruanos às margens do rio Putumayo, apelaram para os países que contavam com populações indígenas em seus territórios, concitando-os a adotarem os métodos protecionistas seguidos pelo Brasil, por iniciativa de Rondon. Em 1913, ganhou medalha de ouro "por trinta anos de bons serviços" prestados ao Exército e ao Brasil. Acompanhou o ex-presidente Theodore Roosevelt numa expedição de mais de 3 mil quilômetros pelos sertões de Mato Grosso e Amazonas. No ano seguinte, a Sociedade Geográfica de Nova York conferiu a Rondon o Prêmio Livingstone, medalha de ouro, por suas contribuições ao conhecimento geográfico. A mesma Sociedade Geográfica de Nova York determinou a inclusão do nome de Rondon, em placa de ouro, ao lado dos de outros grandes descobridores e exploradores da Terra: Pearry, descobridor do Pólo Norte; Amundsen, descobridor do Pólo Sul; Charcot, explorador das terras Árticas; Byrd, explorador das terras Antárticas; e por fim Rondon, o maior estudioso e explorador das terras tropicais. Condecorado e premiado por governos estrangeiros e dezenas de entidades internacionais, representativas das ciências e da paz, Rondon se tornou uma dessas raras figuras que atingiram em vida, no mais elevado grau, o nível de respeito e prestígio por sua obra gigantesca. Mas por que, pergunta o leitor, ele se torna o Patrono das Comunicações? Por contribuições de grande relevância. De 1890 a 1916, Rondon participou das Comissões de Construção de Linhas Telegráficas do Estado de Mato Grosso, que interligaram linhas então já existentes do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Triângulo Mineiro à Amazônia (Santo Antônio do Madeira). Não paira a menor dúvida de que este foi o primeiro esforço de grandes proporções para a integração nacional por meio das comunicações. Foi o próprio Rondon quem escreveu, em seu estudo "Índios do Brasil", edição do Ministério da Agricultura, Conselho Nacional de Proteção aos Índios, publicação n.º 98, volume II, página 3: "Ao terminarem os trabalhos desta última comissão (1916), havíamos dotado Mato Grosso de 4.502,5 quilômetros de linhas telegráficas (...)".Só no período de 1907 a 1909, Rondon percorreu 5.666 quilômetros ao construir linhas telegráficas e, ao mesmo tempo, realizar o levantamento cartográfico da região que forma o atual Estado de Rondônia - nome dado em sua homenagem por sugestão de Roquete Pinto -, numa área de mais de 50 mil quilômetros quadrados, cruzando rios, picadas, serras, chapadas, trilhas e estradas só transitáveis por carros de boi. Às suas linhas telegráficas, os índios deram o apelido de "língua do Mariano". Rondon a elas se referia com entusiasmo, usando a expressão "sondas do progresso". Roquete Pinto dizia que o marechal era "o ideal feito homem". O presidente Theodore Roosevelt afirmava que Rondon, como homem, tinha todas as virtudes de um sacerdote: era um puritano de uma perfeição inimaginável na época moderna; como profissional, era tão grande cientista, tão vasto era o conjunto de seus conhecimentos, que se podia considerá-lo um sábio. (...). A América, dizia Roosevelt, pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao norte, o Canal do Panamá; ao sul o trabalho de Rondon - científico, prático, humanitário. Desse pioneiro brasileiro, disse Paul Claudel, poeta francês e embaixador da França no Brasil: "Rondon, esta alma forte que se interna pelo sertão, na sublime missão de assistir o selvagem, é uma das personalidades brasileiras que mais me impressionaram. Rondon dá-me a impressão de uma figura do Evangelho."Cego e enfêrmo nos últimos meses de vida, Cândido Mariano da Silva Rondon morreu num domingo, 19 de fevereiro de 1958, uma tarde ensolarada, de céu azul, em Copacabana. Recebeu a extrema-unção, voltou-se para seu médico, à cabeceira, e disse: " Viva a República! Viva a República..."Foram suas últimas palavras, após 92 anos de vida inteiramente dedicada à pátria, aos índios e às comunicações.