Créditos da materia: Takashi Tome (1)-Transcrito na íntegra
Paris, setembro de 1996. Um grupo de emissoras se reúne para discutir, entre outras coisas, as perspectivas de seu futuro. Estão presentes as rádios Voice of America (VOA), a Deutsche Welle, a Radio France Internationale e a Téle Diffusion de France (TDF), além da fabricante Thomcast. Essas emissoras têm um ponto em comum: são emissoras "internacionais", ou seja, transmitem a sua programação, em ondas curtas, com alcance mundial.Essas emissoras surgiram entre as duas guerras mundiais (1919-1945) e tiveram, durante muito tempo, um importante papel de levar suas culturas (e suas ideologias) aos quatro cantos do mundo. No Brasil, durante o auge da repressão à imprensa na década de 70 (e portanto antes do surgimento da Internet), essas emissoras eram uma das poucas alternativas para os nossos ouvintes terem uma versão não censurada das notícias. Do ponto de vista técnico, isso era possível porque as ondas curtas (OC - faixa de freqüências de 300 kHz a 3 MHz) possuem um alcance muito grande, embora um tanto quanto instável pelos padrões atuais de comunicação.Uma outra faixa de freqüências bastante utilizada é as ondas médias (OM, que abrange a faixa de 30 a 300 kHz, embora seja utilizada para a radiodifusão apenas na faixa de 540 a 1600 kHz), possuindo um alcance bem menor - geralmente, de algumas dezenas de quilômetros no caso de ondas de propagação direta, e de algumas centenas no caso de ondas troposféricas, que se refletem na atmosfera.Uma preocupação que as une é que elas empregam uma técnica de transmissão que remonta ao início do século XX. E se questionam se as novas técnicas digitais não poderiam tornar suas transmissões mais eficientes, agregando novas funcionalidades, para fazer face ao avanço da Internet e de outras mídias que estão ameaçando a "velha rádio OM/OC" cair no desuso.Um novo encontro é marcado para dali a dois meses. Esse último acaba contando com um maior número de participantes, e são definidos alguns rumos essenciais: o grupo investiria na criação de um sistema de rádio digital para as faixas de ondas médias e curtas, e o nome adotado foi o DRM - Digital Radio Mondiale.A partir daí, começam a ocorrer uma série de reuniões técnicas: Las Vegas (Estados Unidos, 1997), Berlim (Alemanha, 1997), Guangzhou (China, 1998), Amsterdam (Holanda, 1998). Em 2001, é publicada a primeira especificação do sistema. Essa especificação foi ratificada pela UIT no ano seguinte (2002). Em 2003, a Deutsche Welle, a Radio Netherlands, a Radio France Internationale e a Radio Sweden iniciam suas transmissões experimentais.
(1)Takashi Tome é pesquisador em telecomunicações e trabalha na Fundação CPqD. É membro do SinTPq e FITTEL. Eventuais erros e omissões, bem como qualquer posicionamento expresso neste artigo refletem apenas a posição pessoal do autor. O autor gostaria de agradecer aos colegas Renato Maroja (CPqD) e Fernando Castro (PUC/RS), pelas valiosas discussões sobre espectro e modulação digital.